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Memórias de Exposições: Intervenção no Edifício das Fundações (2004)

Texto por Michele Medina


Impulsionados por novas formas de pensar as exposições, artistas e curadores começam a experimentar as possibilidades de criação no espaço, principalmente, a partir dos anos 1960. Assim, evidencia-se na produção da arte contemporânea, a necessidade de desconstruir os espaços tradicionais de arte. Essas criações são chamadas de site specific, por suas relações estabelecidas com as especificidades dos locais escolhidos.


Nas propostas artístico-curatoriais na cidade de Vitória (ES), encontram-se exemplos de exposições que buscam ativar espaços não convencionais. Em 2004, o coletivo artístico Maruípe foi convidado pela Galeria Homero Massena, localizada no Centro da cidade e vinculada à SECULT-ES, a realizar uma exposição. A curadora Neusa Mendes, que era Secretária da Cultura na época, relembra em entrevista à autora que: “o trabalho dos meninos veio em um momento em que estávamos ressignificando àquele espaço, não só da Galeria Homero Massena, mas do prédio [Edifício das Fundações]. [...] Eles praticamente mapearam o prédio todo, foram descendo com os entulhos, que eles encontraram, e, a exposição foi feita desses resíduos”.


Com o foco no processo (documentado por fotografias, croquis, anotações, etc), o Maruípe foi além do espaço expositivo e expandiu sua proposta artística ao Edifício das Fundações (anexo a GHM), tratando o prédio como um todo, e, articulando-se assim, com o espaço urbano ao redor. O coletivo partiu, inicialmente, para um mapeamento do Edifício, que em tempos passados havia abrigado importantes aparatos culturais e artísticos da capital capixaba, e naquele momento encontrava-se abandonado, tendo sofrido invasões, saques e deterioração patrimonial.


Intervenção na galeria feita com entulhos encontrados durante mapeamento.  Fonte: arquivo da Galeria Homero Massena

Intervenção com portas e restos de divisórias de madeira em escadas. Fonte: arquivo da Galeria Homero Massena.

Ao longo da segunda metade do Século XX, a abordagem física (ou "fenomenológica”, como nomeia Miwon Kwon) do conceito de site specific foi ampliada por outras interpretações, considerando também os aspectos “social/institucional e discursivo” (KWON, 2009). Através de revisão do termo por Raquel Garbelotti e Jorge Menna Barreto (2008), tratamos aqui o site specific de um modo mais abrasileirado, onde “é na relação com o seu contexto que a obra começa a formar o seu significado e a sua complexidade. É nas relações com seu entorno que o objeto ou instalação artística detona sua potenciabilidade” (BARRETO, GARBELOTTI, 2008, p. 124), levando em conta assim, outros aspectos, como o sociológico, histórico, artístico, antropológico, etc.


Assim, “com o passar dos anos, cada vez mais os trabalhos artísticos passaram a ocupar o espaço urbano. Também tornaram-se recorrentes exposições em prédios antigos abandonados, igrejas e outros locais inusitados” (CARVALHO, 2014, p. 124). Essas curadorias apresentadas em espaços não convencionais são nomeadas como contextuais, de acordo com Bettina Rupp. “É através das características do lugar que se dará a inserção artística, criada para e no local” (RUPP apud CARVALHO, 2014, p. 124).


Intervenção VENDE. Fonte: arquivo da Galeria Homero Massena.

O Coletivo Maruípe ativou estas questões na exposição aqui relatada. Através de proposições artísticas que dialogavam entre si e com o Edifício das Fundações, utilizando os “entulhos” encontrados no prédio, parte desse material foi “exposto” no espaço da GHM. Ao ser convidado para uma exploração da Galeria Homero Massena além do que é conhecido, adentrando suas entranhas, o público foi envolvido no processo de integração entre espaço e materiais. Desse modo, transpassava-se a ideia de um espectador que é meramente um observador, mas também um ativador do espaço expositivo.


Intervenção tereza no Edifício das Fundações. Fonte: arquivo da Galeria Homero Massena.

O Coletivo Maruípe, que tinha como proposta a viabilização [novos] espaços para realizar sua produção artística, era formado por: Elaine Pinheiro, Meng Guimarães, Rafael Corrêa, Silfarlem Junior, Vinicius Gonzalez.


Este texto é parte da pesquisa de Iniciação Científica desenvolvida por Michele Medina com apoio de Bolsa UFES.

 

Referências:


BARRETO, Jorge Mascarenhas Menna e GARBELOTTI, Raquel. especificidade e (in)traduzibilidade. IN: MANESCHY, Orlando e LIMA, Ana Paula Felicissimo de Camargo (org.) Já! Emergências Contemporâneas. Belém: EDUFPA/Mirante - Território Móvel, 2008. Disponível aqui. Acesso em agosto 2020.


CARVALHO, Ananda. Redes curatoriais: procedimentos comunicacionais no sistema da arte contemporânea. 2014. Tese (Doutorado em Comunicação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014. {on line}. Disponível aqui. Acesso em agosto 2020.


KWON, Miwon. Um lugar após o outro: anotações sobre site specificity (Tradução: Jorge Menna Barreto). Revista de Pós-Graduação em Artes Visuais EBA UFRJ, Rio de Janeiro, n. 17, p. 166-187, 2009.

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