Conflitos e mediações na coleção de Arte Postal da XVI Bienal de São Paulo de 1981.
Sobre a dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Artes da UFES, sob orientação da Profa. Dra. Almerinda da Silva Lopes
por Jessica Dalcolmo
Durante os anos de graduação em Museologia, cursada entre 2009 a 2014 na Universidade Federal de Ouro Preto, percebi um distanciamento das disciplinas que discutem a documentação e comunicação em museus com questões do contemporâneo, mais especificamente sobre poéticas artísticas processuais e conceituais que operam com ideias e conceitos e criticam a predisposição objetual do bem artístico. Desta forma, ao pensar em uma possibilidade de trabalho para um estudo acadêmico, optei por propor uma reflexão sobre a problemática da incorporação de novas poéticas artísticas em museus e centros culturais, ou seja, tratar a arte contemporânea a partir da perspectiva museológica.
Para tanto, a investigação no mestrado propôs um estudo sobre os processos de musealização, entendidos como um conjunto de etapas ou como uma estratégia preservacionista em museus e em centros culturais, refletindo sobre a musealização da Coleção de Arte Postal da XVI Bienal de São Paulo de 1981, hoje salvaguardada pelo Centro Cultural São Paulo - CCSP na Coleção de Arte da Cidade. Neste sentido, a pesquisa realiza-se a partir da seguinte problemática: de que maneira as etapas do processo de musealização se veem desafiadas diante da pluralidade de suportes, linguagens e técnicas da arte contemporânea e da arte postal?
Vista parcial da Exposição Arte Postal na XVI Bienal de São Paulo de 1981 I Fonte: Fundação Bienal de São Paulo / Arquivo Histórico Wanda Svevo
Vista parcial da Exposição Arte Postal na XVI Bienal de São Paulo de 1981 II Fonte: Fundação Bienal de São Paulo / Arquivo Histórico Wanda Svevo
Ao pensarmos nos acervos ligados às novas manifestações artísticas, logo nos deparamos com o desencontro na forma como a museologia vê a preservação e documentação do bem musealizado, ligado à proteção da memória e a salvaguarda quase imortalizada do objeto. Demonstrativo desse enfrentamento para o campo da museologia é a arte postal que tem como características a efemeridade, a transitoriedade, a reprodutibilidade, o conceitualismo e a imaterialidade. A partir desse pressuposto, como deve ser executada a documentação dos acervos advindos destas manifestações artísticas? Pensando na coleção originária da XVI Bienal de São Paulo de 1981, como preservar as redes simbólicas que engendraram o objeto artístico ou como proceder em relação a sua conservação e exposição?
A arte postal surge como um processo alternativo e marginal em meio à diversas proposições conceitualistas que resistiam ao processo de institucionalização em circuitos tradicionais da arte, como museus, galerias e centros culturais. Dentre as várias poéticas, escolhemos a arte postal pois a mesma opera para além do suporte material ou do produto final. A linguagem compõe uma rede comunicacional que valoriza produções coletivas, rompendo com questões referentes ao âmbito estético, dando ênfase às redes que compõem o objeto artístico em uma dinâmica histórica e política.
Correspondência - Paulo Brusky, 1981 Fonte: Fundação Bienal de São Paulo / Arquivo Histórico Wanda Svevo – Foto da autora
Envelope l Bruno Talpo, 1981 - frente Fonte: Fundação Bienal de São Paulo / Arquivo Histórico Wanda Svevo – Foto da autora
As questões abordadas na dissertação apresentam impasses atuais que norteiam a relação museu-poéticas contemporâneas, refletindo na forma como as práticas museais operam na documentação e salvaguarda dos mesmos. Nesse contexto, buscou-se analisar caminhos e soluções para melhor estreitar a relação entre museus e produção artística contemporânea.
A dissertação Musealização e Arte Postal: Conflitos e mediações na coleção de Arte Postal da XVI Bienal de São Paulo de 1981 de Jessica Dalcolmo está disponível na íntegra no site do Programa de Pós-graduação em Artes do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo.
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