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Plataformas da arte: revisando perspectivas futuras diante dos impactos da pandemia

Texto por Daniel Hora


Há meses a pandemia de COVID-19 vem afetando o campo sociocultural em suas diversas configurações ao redor do mundo. Os efeitos da crise sanitária são observados no(s) sistema(s) das artes, sem que possamos estabelecer uma interpretação crítica estável. Pois experimentamos um processo inconcluso, caracterizado pela variação temporal e a complexidade. Diante das questões que nos são impostas no cotidiano dos riscos, a futurologia se apresenta como seara radicalmente propícia aos exercícios especulativos, que se fundamentam em experiências presentes, recuperações do passado mais ou menos recente e as expectativas cultivadas na escala individual ou coletiva.


Questões anteriores à pandemia assumem urgência e novas perspectivas para abordagem. Em 2019, sem que se pudesse imaginar a crise que estaria por vir, apresentei uma comunicação no 2o Simpósio Internacional de Relações Sistêmicas da Arte – Arte Além da Arte, evento promovido em parceria pela UFRGS, USP e Sesc-SP. O artigo resultante deste evento foi publicado recentemente, no início deste mês de julho. Recebe o título de Cubo branco, caixa preta, plataformas radiantes: portabilidade e experiência estética da arte por meio de aparatos reticulares.


Tratava-se então de um ensaio sobre temas relacionados à curadoria, com base em teorias provenientes da estética, teoria da arte e estudos da mídia em autores como Boris Groys, Vilém Flusser e Peter Osborne. O principal argumento se desenvolvia em torno de um desdobramento de práticas expositivas e de circulação da arte baseadas nas suas condições de materialidade ou imaterialidade. Nesse encadeamento, apareciam em sequência o cubo branco das galerias e museus modernos, a caixa preta dos dispositivos das imagens técnicas e as plataformas de difusão da cultura eletrônica e, sobretudo, digital.


Diante da pandemia, alguns nomes importantes da net arte, como o duo belgo-holandês JODI (no vídeo abaixo), a dupla italiana Eva & Franco Mattes e a brasileira Giselle Beiguelman, nos fornecem hoje um paradigma de contrapontos e resistência política ante a euforia em torno da expansão da economia basada nas tecnologias de produção informacional e comunicação.
ZYX, 2012, JODI Fonte: Canal dos artistas no Vimeo.

Em relação ao último estágio das plataformas, destacavam-se os temas da obsolescência tecnológica, a participação multitudinária e a automação de sistemas. Com isso, as reflexões direcionavam-se a três funções historicamente variáveis, porém constantes na (re)configuração das condições de possibilidade de ocorrência da arte a cada época: 1. os graus de durabilidade e integridade da obra artística, 2. a excepcionalidade ou exemplaridade de sua produção e identificação, e 3. a delimitação de sua autoria, como ação performada entre a realização e apresentação institucional ou instituinte de suas obras.


Embora justificadas por circunstâncias que antecedem a pandemia, as discussões apontadas no texto adquirem no momento atual uma carga imprevista. Surgem novas inquietações e perguntas, à medida que se espalham práticas e termos como visitas virtuais a exposições, objetos digitais colecionáveis, e o ciclo das lives de artistas, críticos e curadores nas mídias sociais.

 

Cubo branco, caixa preta, plataformas radiantes: portabilidade e experiência estética da arte por meio de aparatos reticulares.

RESUMO: Para além das práticas ainda vigentes de apresentação no cubo branco ou na caixa preta, a circulação da arte em aparatos eletrônicos suscita tentativas de atualização do pensamento estético aplicado ao sistema das artes. Considerados sobretudo os aparelhos miniaturizados para o uso pessoal em rede, institui-se um ambiente amplo de instanciações que cada vez mais afeta as opções tecnopoéticas de produção, bem como as abordagens teóricas, a investigação crítica e as práticas de curadoria e colecionamento. O problema se apresenta em ao menos três vertentes que serão discutidas neste artigo, a partir de contribuições teóricas e críticas e de exemplos de projetos artísticos direta ou indiretamente destinados à web, mídias móveis ou outros artefatos luminosos de distribuição – a seguir denominados como plataformas radiantes. Em primeiro lugar, há a aceleração da obsolescência tecnológica, que resulta na vida útil instável do hibridismo de elementos constitutivos da obra artística multimídia. Em segundo lugar, encontra-se a participação multitudinária nos intercâmbios da cultura digital, que tende a gerar uma diluição gradativa do fenômeno social da arte, com a reticulação de inúmeros pontos aptos para a emissão e recepção. Por fim, percebe-se a crescente automação de sistemas generativos (autopoiese), que sugere a necessidade de adoção de paradigmas não antropocêntricos de transdução e semiose. A partir dos conceitos de imagem técnica (Flusser) e mídias ópticas (Kittler), concluiremos com comentários acerca dos impulsos correspondentes de reconfiguração de três eixos persistentes de orientação do entendimento teórico-crítico da condição pós-conceitualista da arte contemporânea em geral (Peter Osborne) e da arte digital em particular. São eles: a durabilidade e integridade da obra artística; a excepcionalidade ou exemplaridade de sua ocorrência e identificação; e a função-autor performada em sua realização e apresentação institucional ou instituinte (Raunig).
Palavras-chave: Net arte, Arte Pós-conceitual, Digitalização, Curadoria.

Você pode ler o artigo na íntegra clicando aqui.


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